Entrevista concedida à Revista HOSP

Focando no tema "edifício hospitalar" e "ambientes de saúde" quais são as especificidades deste tipo de empreendimento? Funcionalidade e assepsia estão realmente em primeiro lugar?


A concepção de um edifício hospitalar é uma das tarefas mais complexas que um arquiteto pode enfrentar. Não se trata apenas de considerar os aspectos puramente funcionais ou de assepsia, mas uma série de outros condicionantes, que incluem desde os aspectos geográficos, sócio-econômicos e epidemiológicos da região aonde se insere o serviço de saúde, até o atendimento dos requisitos específicos de funcionamento de cada serviço e as normas técnicas pertinentes. Observamos que a constante modernização tecnológica, ocorrida nos últimos anos, tem elevado ainda mais a complexidade dos serviços de saúde e, na maioria dos casos, a qualidade dos desenhos dos ambientes não tem conseguido acompanhar este desenvolvimento. Técnicas, soluções, sistemas, procedimentos, espaços e equipamentos superados ou equivocados, muitas vezes oneram inutilmente as instituições de saúde e prejudicam a qualidade do atendimento em geral.


Se considerarmos tendências como sustentabilidade, aproveitamento de espaço, etc. quais são os principais "quesitos" para um prédio hospitalar do futuro? Quais as principais tendências?


Com foi dito acima, a rápida evolução tecnológica, o contínuo aperfeiçoamento assistencial e a conseqüente necessidade dos hospitais sofrerem constantes mudanças, seja na forma de readequações ou ampliações, praticamente obrigam que conceitos como expansibilidade, acessibilidade, flexibilidade, modularidade, sustentabilidade e humanização sejam incorporados aos projetos, desde a fase de planejamento inicial. Além destes conceitos, hoje em dia alguns hospitais do Brasil começam a adotar recomendações projetuais da Arquitetura Baseada em Evidências (ABE), que é o uso consciente e judicioso das melhores evidências científicas, advindas da pesquisa e da prática. Sem dúvida, projetos baseados nos preceitos da ABE tornaram-se uma importante tendência mundial, colaborando para que erros e vícios do passado sejam corrigidos e os ambientes hospitalares se tornem cada vez mais resolutivos.


A maioria dos hospitais no País, principalmente da rede pública está em prédios antigos, que demandam muita manutenção e pecam muitas vezes em funcionalidade. Como você vê este problema? Qual a solução: reformar ou construir novos?


Com certeza, hoje se observa que diversos hospitais brasileiros, mesmo aqueles dotados da mais alta tecnologia, ainda apresentam deficiências básicas em termos da qualidade e flexibilidade dos seus espaços arquitetônicos. Esta deficiência é predominante nas edificações mais antigas, em geral aquelas construídas nas décadas de 60 e 70, que apresentam estruturas físicas ultrapassadas, com espaços rígidos, dificultando sua atualização. Porém, mesmo nos projetos de ampliação e de obras novas, observa-se uma dificuldade por parte dos profissionais não habilitados em adotar uma concepção de arquitetura que englobe todas as exigências das novas tecnologias.
Logicamente, a decisão de se re-adequar um EAS ou construir um novo sempre esbarra nas questões de disponibilidade financeira. Nunca é fácil tomar a decisão de se partir para um novo edifício, em detrimento de uma estrutura pré-existente. Qualquer que seja o motivo, a estratégia de se re-adequar prédios hospitalares traz à tona problemas inerentes à dificuldade de se modificar sistemas antiquados, principalmente em situações aonde não é possível à interrupção dos serviços. Esta dificuldade é mais evidente quando há a necessidade de se reformar setores imprescindíveis ao funcionamento de um EAS, como é o caso de setores de apoio técnico e logístico.


Em empreendimentos novos, quais os erros mais comuns que vocês têm observado?


A falta de planejamento! É fundamental que na fase inicial de um empreendimento hospitalar haja a adoção de um planejamento estratégico multidisciplinar, que resulte em um plano diretor, o que na maioria das vezes não ocorre ou é feito de forma precária. O plano diretor de desenvolvimento de um EAS, neste caso, refere-se ao planejamento da organização espacial física da edificação (setorização, circulações, etc), sua situação atual e a pretendida (a médio e longo prazo), e os investimentos necessários ao longo do tempo para que o plano se concretize. Com esse instrumento é possível, também, planejar o aporte financeiro e tecnológico na edificação, minimizando os problemas e interferências que as intervenções possam causar.


Qual a concepção hoje de um edifício inteligente. O que o diferencia das construções tradicionais?


O que se conhece hoje como edifício inteligente é resultado da incorporação gradual, ao longo das últimas décadas, de uma série de sistemas e sub-sistemas de automação predial. As ações que visam melhorar a sustentabilidade também começaram a ser mais valorizadas nos últimos anos, a ponto de serem criados selos de qualidade e certificação ambiental para edificações, como é o caso do selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) emitido por uma organização norte-americana. O edifício hospitalar, por sua complexidade e seus estritos requisitos técnicos, é um dos tipos de edifícios aonde é mais difícil implantar estes conceitos de Green Buildings. Porém, pode-se melhorar em muito a eficiência energética de um EAS e, por conseguinte, os resultados financeiros das instituições de saúde, com a adoção de diversas soluções tais como a automação de sistemas elétricos e de controle do ar, a especificação de materiais apropriados, o aproveitamento e re-aproveitamento de recursos naturais, etc.


O que prever em relação a interface com equipamentos médico-hospitalares?


Existem métodos específicos para gerenciamento de equipamentos médico-hospitalares, visando sua melhor utilização e uma maior segurança de pacientes e funcionários. A adoção de diretrizes operacionais sobre a implementação das fases do ciclo de incorporação tecnológica no plano diretor do EAS, por exemplo, ajuda a minimizar os problemas de incompatibilidade entre os ambientes e os equipamentos, ao prover as condições técnicas para a instalação dos equipamentos atuais e as soluções que proporcionem flexibilidade de adequação dos espaços às novas tecnologias que surgirão no futuro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Upgrading La Esperanza - Part 4 of 4

Clínica de Oncologia Pediátrica em Brasília

The Culmination of Brazilian Modernity